Monday, December 15, 2008

Sobre o [meu] amor

Cabelos lavados, olhares piscados, desejos secretos, notas de uma melodia já tocada e que conhecemos bem. Flertes, suspiros, segredos, almas suadas com o coração na palma da mão. Sorrisos e esperanças, eu dissimulada, ele sorri. ele muito homem, muito menino, muito príncipe, muito meu. desde a primeira vez eu o quis, e hoje muito mais. moro agora neste lugar encantado, um descampado de pele alva e macios, tão meus que me fazem sombra para o meu descanso. e tão perfeito que é o encaixe que me faz sentir que ja éramos um. o seu abraço me circuscreve no peito morno e cheio, meu melhor regaço. me carrega nos ombros e eu em lúdica segurança prometo amá-lo fácil. ele que guarda as cores exatas da madrugada na sua pele marcada. carrega em seu olhar todo o resto da minha existência que desde o primeiro momento lhe entreguei. às vezes ele se faz sério, como em suas observâncias, às vezes ele se lança dominador me orientando nas exatidões que sempre teimo em discutir. traz aí o que me pesca: a clareza dos que pensam. mas é no seu olhar profundo que me afogo em sentimentos tão certos e tão dele. gosto da sua segurança madura que me envolve em carinhos. deitada ao seu lado eu me refugio na escuridão e redesenho em percurso cada movimento dele. gosto de contornar cada respiração de sono colada à minha pele. travesseiro, eu serena e justa em seu colo. gosto quando fala de coisas simples como músicas preferidas, de como brincava no campo e como eram as suas travessuras pueris. gosto quando lança teorias inexatas sobre relações exatas, quando se perde nas estrelas e tenta falar, prever o tempo e o futuro. gosto quando me diz o quanto gostaria de ter um hobby e como gostaria de se casar de novo [comigo?]. gosto de como organiza a sua rotina, sempre perfeita, de como adora a cerveja nos finais do expediente e até o café coado das manhãs. gosto de quando ele diz coisas obcenas, quando fala de história, política e até de insetos. gosto de quando faz perguntas lógicas sem respostas ilógicas. gosto quando me ouve e até quando não me ouve mais. gosto quando me diz bem baixinho o quanto me ama e o quanto gosta de ouvir bem baixinho também que o amo demais. ele, meu guia, meu ponto de fuga, meu encontro, meu labirinto, meu reflexo, meu exato enquadre de tão idênticos e opostos que somos. ele que me apaixono sempre como se fosse pela primeira vez. sempre que coloco meus olhos em suas aparições, ele que me surpreende, me conquista, me assusta de alegrias e me afoga de felicidades. ele que me imprime a cada olhar que lança certeiro do seu amor por mim. ele que me faz incompreender o impossível. ele que escolho como meu último amante. ele que me faz ter vontade grande de abraçar eternamente. ele que me faz ter vontade de dançar uma linda canção sempre. eu amo.

[retrô]visor

Os sonhos têm fragmentos de realidades, e as realidades fragmentos de sonhos.
Você é um sonho ou uma realidade?

Tuesday, November 25, 2008

seu olhar é um labirinto sem paredes, sem reflexos e mistérios. gosto de me perder neles para não conseguir descansar. é como se recriasse a imensidão do mar.

Monday, November 24, 2008

Lapsos # 02

Fotografar é um beijo invertido, então olhar é dar movimento à saudade inerte. Há fotos que têm cheiro de gaveta, algumas de licor, outras de calendário vencido, mas as que ficam perdidas navegando pela aorta são aqueles que têm cheiro de abajur. Seus feixes de luz atravessam a escuridão da alma e não conseguem olhar para trás. Outro dia vi uma fotografia dessas, com cheiro de abajur. Abri os olhos, senti novamente aquele aroma de música de câmara e vi que já não sentia mais os pesos de nada...nem da alma, nem do coração, nem do rim... de mais nada...Apenas sentia a síncope do coração, como uma nota de um tango...Os olhos no limite das lágrimas, o pé marcando o ritmo e o compasso...E tudo se encaixando como deveria ser... E agora estamos aqui apenas tentando atravessar o nosso tempo. Um tempo presente de um verbo inconjugável. Tudo isso porque o nosso pretérito sempre será menos-que-perfeito.

Saturday, November 15, 2008

"Ela amava o muro de concreto frio como se fosse o lençol mais quente e macio de um hotel luxuoso de Paris"

Uma sensação nostálgica aparente vinha com o vento do mar para fazer prova dos pregadores de roupa. Uma leve brisa soprava um ou outro lençol que se perde na paisagem entre os concretos. Os cabelos formam emaranhados e estão presos em laços que se escondem pela noite fria. Por alguns momentos pode-se imaginar como seria se o vento do mar pudesse levar tudo o que nos pesa tanto.

Contemplação. A pressão e dificuldade para respirar golpeia o coração e o rim que outrora abrigavam seus sentimentos mais sinceros e profundos. Cerrar os olhos dói demais. Os sonhos já foram despedaçados. Cansaços e decisões. Amor e saudades. Suspiros e gemidos. Flores e lençóis.

E a certeza de que nunca, em nenhuma parte do mundo encontraria aquilo que a completasse como foi aquela época de tormentos intelectuais. Sim, o pleno delírio. O infinito do finito. A inSANidade sincera dos que amam.

E ela imagina um longo varal entre o seu prédio antigo e aquela Bela Vista.

Sim, ela voltará a falar sobre lençóis.

Thursday, November 13, 2008

Tudo isso será efeito do pó daquele escombro???

Não entendo o fim do infinito.

Sunday, September 28, 2008

Eu era infeliz e não sabia.

Thursday, September 11, 2008

Fragmentos

O mundo visto pelos teus olhos é clichê demais. Como um par de buquê-amor-perfeito-bem-amadurecidos.
Ele tem um abraço tão forte,
tão forte,
que consigo roubar o cheiro dele pra mim.
Eu me tornei uma música feliz tocada nas manhãs de sábados!

Sunday, August 31, 2008

Ode à ambiguidade

O universo é mais
amplo que o breu
Egoísmo,
Individualismo,
Umbigocentrismo
Pode abrir os olhos
A escuridão vem de dentro
Do seu próprio UMBIGÜO

Monday, July 14, 2008

Agora já não há mais jeito, meu amor. Você destruiu tudo em querer fazer diferente dessa vez. Você estragou a nossa brincadeira de brigar. Vou começar a encaixar as nossas cócegas, embalar as lágrimas, jogar fora da memória os momentos únicos de nossas vidas...E me despeço agora de todo o presente, dos tempos verbais, das nossas conjunções, não há mais como haver um futuro-mais que perfeito e não há mais sequer um passado-nada-perfeito...Nem eu, nem tu, nem eles ou elas...E já não há mais nós. Nem cegos, nem surdos, nem mudos. Estou interseccionando tudo, até um dia te encontrar na rua e não te reconhecer. Nunca houve brilhos eternos. Prefiro isso do que acreditar que tudo foi uma grande mentira. Agora, meu bem, será a minha vez de me enganar. Então, a partir de agora, eu não te amo mais!

Monday, April 28, 2008

esplendor

aquela ausência de histeria, aquela profundidade na concavidade daqueles sorrisos ocultos a deixava em estado de trégua. lá onde entravam e saíam todas as emoções. emoções cálidas, ora dormentes, ora tormentosas. lá onde a acidez e a amargura eram contínuas. lá onde já não se reconhecia a doçura que sempre vertiam aquelas teimosas lágrimas em esquizofrenias tempera[MENTAIS]. gostava mesmo era das mordidas e dos ruminantes blábláblás que eram bebidos aos goles daqueles complexos astroLÁBIOS. os olhos? esses eram traçados apenas para beijar e se guiar naquela cínica imensidão do céu.

Wednesday, April 09, 2008

estréia

pintei o cabelo. desfiei franjas. ousadia. comprei sapato novo. vestido magenta. uma cor sem sentimento. passei rímel. blush. batom vermelho. essência de arco-íris com notas florais. uma pausa. alguns devaneios. inédito enquadre.
ensaios. hiatos prolixos. retóricas. sarcasmos. risos entorpecentes. duelos de semânticas. bilhetes. fotos. folhetins. lado b. diazepan. delírios de lírios. vinho tinto suave. anestesias.
e agora vou me preparar pra ir

A Rosa Profunda

"Bem no fundo do sonho estão os sonhos. A cada noite quero perder-me nas águas obscuras que lavam o dia, mas sob essas puras águas que nos concedem o penúltimo Nada Pulsa na hora cinza o obsceno portento. Pode ser um espelho com meu rosto distinto, Pode ser a crescente prisão de um labirinto Ou um jardim. O pesadelo sempre atento. Seu horror não é deste mundo. Causa inominada Alcança-me desde ontens de mito e de neblina; A imagem detestada perdura na retina A infama a vigília como a sombra infamada. Por que brota de mim, quando o corpo repousa E a alma fica só, esta insensata rosa?" Jorge Luis Borges

Monday, March 31, 2008

Notas

Havia tanta bossa nos discos deles que em algumas noites não conseguiam escolher o que ouvir! Talvez Piazzola? Como na primeira noite em que ela estivera lá e revelara como seus tangos a faziam arrepiar! Arrepiar-se onde não devia! Uma música que faz amor lento, delicado, repleto de harmonia. Ou um bolero? Que tanto dançaram em estados à flor da pele, entre as súplicas lacrimosas de besáme mucho e que embalaram as danças mais imorais já vividas na humanidade. Quem sabe aqueles solos quentes de Steve Vai, cheios de coreografias solenes e insinuantes que sugeriam o despertar de todos os desejos mais lascivos e obcenos? Ou então um pouco da destreza mágica e selvagem do dedilhar flamenco de Paco? Aquela selvageria latejante e voraz que sempre cortava o silêncio de uma noite arrebatadora e calorosa. Música que vinha emaranhada com os sons mais profundos de si e que despertava-lhe os sons mais agudos e espasmos de louca...Havia muito o que viver, o que cantar, o que dançar...Havia muito ainda...
Então quando ele partiu a música perdeu todo o sentido para ela.
Restou-lhe naquela época um silêncio tão ausente de sensações que nem mesmo a solidão doía.
Perdia então algumas noites tentando inutilmente escolher a música para o dia em que ele voltasse. E hoje aprendeu a viver o silêncio.

O amor não deixa sobreviventes.

Saturday, March 29, 2008

lullaby

hoje me olhei no espelho e percebi uma ruga que há muito não via.
não porque ela não mais existia, mas por ela ter se ocultado bem quietinha por lá, entre as minhas francas células epteliais.
as minhas rugas são eternas. infinitas.
senti o canto dos meus olhos se encherem de lágrimas ao percorrer por aquele espelho dedo-duro. lágrimas tão familiares que corri para segurá-las pelo máximo de instante que eu conseguiria.
improvisei um sorriso em seguida pra me convencer que tudo estaria bem, mas também foi uma tentativa inútil de me apoiar em "brilhos eternos".
aquilo [e isso] era um triste monólogo. mas não é mais. nem triste, e nem monólogo.
triste é tudo que tem fim. mas eu calculo o infinito.
triste é quem nunca teve uma ruga. mas eu tenho uma. várias. e cada vez mais.
triste é o que não se viveu. mas eu fiz mais que viver. amei.
triste é a lacuna que fica na memória. e eu tenho infinitas recordações.
triste é quem nunca ergueu um muro de concreto. e eu até pulei um.
triste é ver o varal vazio por não ter lençóis. e no meu tem até fronhas.
triste é a gelidez do monólogo.
triste é a chegada do botox.

Friday, March 28, 2008

pandora's box

todo mundo tem uma gaveta.
já experimentou pintar a essência da sua gaveta?
guardo a minha vida inteira numa delas.
e tenho notado que ela tem ficado cada vez mais inútil ultimamente...

Monday, March 24, 2008

Domingo

Ele permanecia ali, imóvel, dormindo naquela mesma posição confortável de sempre. Arriscou então, um encontro abraçando-o, e sentindo aquela voluptuosidade, mas aquilo a incomodou, seria melhor contemplar aquele ângulo por mais alguns minutos, até adormecer. Se adormecesse. Então voltou seu rosto para junto do lençol, que de tão macio parecia respirar com ela. Já ele, respirava longe, voltado para algum lugar seguro de vultos e escombros provavelmente. Respirava tão distante que a inspiração já não cabia em seu peito tão perfeitamente desenhado, parecia que algo iria lhe escapar, como acabam fugindo as coisas que não são pra ser de ninguém. Tateou-lhe devagar, passou os dedos em sua pele macia e dourada como se fosse redesenhá-lo, mas não, aquele corpo superava a perfeição. Então por um instante, uma dúvida, sim, ele estava vivo. O ar entrava e saía de maneira tão sutil, imperceptível. Pensou então na morte, na grandiosidade das coisas que só acontecem uma só vez na vida. Sem idas e vindas, sem repetições, ensaios ou rascunhos. Aquela cena desenhada na parede de suas lembranças. Pele, ar, seda. Como se estivessem contracenando em total harmonia com o lençol. Ela havia captado a nota perfeita daquele instante que só aconteceria uma única vez. Um único movimento, uma agitação de dedos e já mudaria todo o cenário. Contemplou atentamente antes daquela cena mudar. Era lindo daquela maneira. Lindo como não seria mais, nunca mais depois de alguns instantes. Testemunhou aquela beleza até os olhos arderem por insistirem em não fechar. Piscou, afinal, duas vezes e sentiu que após esse ato algo havia ficado para trás, embora quase tudo permanecesse como até então. Tudo aquilo impregnava-a com a sensação única e leve daquele quarto. Leve e ao mesmo tempo fugaz, por mais que insistisse em não piscar os olhos. Ele agora teria o sono como álibi para tornar-se livre, dessa vez as noites em claro, as insônias e os orvalhos das madrugadas não seriam suficientes para estilhaçar os muros. Deixou-se então observando aquele peito que agora ia e vinha com mais força, ritmado como os ponteiros de um relógio. Ah sim, o tempo – faltava pouco, mas ainda… Resolveu então se despir de qualquer tipo de pensamento e pousar toda a sua atenção no peito indo e vindo… Indo e vindo como algo que não consegue ir completamente embora.

Fantasias

Segundo o Google Analytics, esse blog é um ménage à trois...

Sunday, March 23, 2008

Rascunhos

Eu teria me sabotado mais um pouco, por mais alguns meses, uns dias, uns minutos...Por um abraço a mais...Teria te levado a elevados e corcovados, te despedaçaria mais um tango e cantarolaria mais uma grosseria...Teria assistido mais um filme, ou até prolongaria uma curta-metragem naquela mesma sala de sempre...Teria te oferecido mais um vinho que alegraria aqueles risos eufóricos nossos...Teceria um último quadro amor-tecedor nosso e derramaria nanquim no último lençol...Te levaria à cidade para ver como em uma multidão de pessoas e muros de concretos só estávamos eu e você...Sempre...Protegidos...Por um olhar a mais, sim eu teria...Tudo, só para não deixar aquele vazio ir embora com todo esse amor-felicidade...

Thursday, March 20, 2008

Alien

Ele cansou de esperar uma atitude. E permanecia ali, sempre quieto e deixando-se levar pela inércia dos fatos, dia após dia. Mas as coisas não caminham só e ele pensava intuitivamente que já estava na hora de mudar. Ele vivia a busca de algo. Uma busca solitária, que acabava afastando-o do mundo, dos amigos e dos amores. O que era ele não sabia. Talvez nunca saberia, talvez não havia o que ser buscado, apenas vivido em estado de não pertencer a lugar nenhum - como quando a gente acredita não em um, mas em todos os deuses. Talvez ele se tornasse um viajante solitário de terras cada vez mais longínquas. Alguém sem laços. Alguém sem lenços e documentos. Um turista acidental, confirmando a sensação de, apesar daquela imensa gratidão por ser humano, ter nascido estrangeiro para a humanidade. Ou, como cantam, um perfeito Englishman in New York...

Thursday, March 13, 2008

Espelho

Você gostaria de ser eu???

Pois eu gostaria de ser você...Só pra sair um pouco da rotina.

Thursday, March 06, 2008

Não são metáforas... ... ...

Eufemismo?

Talvez o meu espírito sofista de hoje tentaria me convencer do contrário...
Porque é no inverso do universo que acontecem os melhores acordes de um Adágio, como o sombrio de Brahms.
Já me convenci que essa patologia crônica que caleja a minha alma de pinturas, vocabulários, artes, e gramáticas, é o que encarde minhas veias torpes psicotrópicas...
Não usar palavras seria perder os sentidos? Ou como diria Lispector na Claridão das águas vivas, seria então "perder-se nas essenciais ervas daninhas?" Ou então se entregar nos infinitos com finais infelizes dos amores conto-de-fadas.

Mas acredito que Iran Necho tem razão... “...a verdade é a maior mentira que já inventaram...”

Painter Song

Tento vasculhar na minha vasta escuridão alguma metáfora, algum tom de azul-pastel-de-vento pra eu voltar a pintar sobre lençóis...Recomeço buscando um ponto de fuga de onde, outrora fugi desesperadamente...Palavras que me esqueci...Suspiros que se foram...Notas que não me recordo mais...Pintar é algo que se requer prática...E isso, pelo visto eu já perdi também...Em meus esboços trépidos descubro que a verdade é que eu sempre estive só de mim. O primeiro acorde do meu novo adágio é uma ode à redenção. A felicidade tira a cor das pinturas. E o amor-imenso-amor, não vem mais com aroma de música de câmara.