Monday, November 24, 2008

Lapsos # 02

Fotografar é um beijo invertido, então olhar é dar movimento à saudade inerte. Há fotos que têm cheiro de gaveta, algumas de licor, outras de calendário vencido, mas as que ficam perdidas navegando pela aorta são aqueles que têm cheiro de abajur. Seus feixes de luz atravessam a escuridão da alma e não conseguem olhar para trás. Outro dia vi uma fotografia dessas, com cheiro de abajur. Abri os olhos, senti novamente aquele aroma de música de câmara e vi que já não sentia mais os pesos de nada...nem da alma, nem do coração, nem do rim... de mais nada...Apenas sentia a síncope do coração, como uma nota de um tango...Os olhos no limite das lágrimas, o pé marcando o ritmo e o compasso...E tudo se encaixando como deveria ser... E agora estamos aqui apenas tentando atravessar o nosso tempo. Um tempo presente de um verbo inconjugável. Tudo isso porque o nosso pretérito sempre será menos-que-perfeito.

1 comment:

Maurício Fonseca said...

os martírios do presente se vão quando se tem um passado tão bonito como este.