Monday, March 31, 2008

Notas

Havia tanta bossa nos discos deles que em algumas noites não conseguiam escolher o que ouvir! Talvez Piazzola? Como na primeira noite em que ela estivera lá e revelara como seus tangos a faziam arrepiar! Arrepiar-se onde não devia! Uma música que faz amor lento, delicado, repleto de harmonia. Ou um bolero? Que tanto dançaram em estados à flor da pele, entre as súplicas lacrimosas de besáme mucho e que embalaram as danças mais imorais já vividas na humanidade. Quem sabe aqueles solos quentes de Steve Vai, cheios de coreografias solenes e insinuantes que sugeriam o despertar de todos os desejos mais lascivos e obcenos? Ou então um pouco da destreza mágica e selvagem do dedilhar flamenco de Paco? Aquela selvageria latejante e voraz que sempre cortava o silêncio de uma noite arrebatadora e calorosa. Música que vinha emaranhada com os sons mais profundos de si e que despertava-lhe os sons mais agudos e espasmos de louca...Havia muito o que viver, o que cantar, o que dançar...Havia muito ainda...
Então quando ele partiu a música perdeu todo o sentido para ela.
Restou-lhe naquela época um silêncio tão ausente de sensações que nem mesmo a solidão doía.
Perdia então algumas noites tentando inutilmente escolher a música para o dia em que ele voltasse. E hoje aprendeu a viver o silêncio.

O amor não deixa sobreviventes.

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