Havia tanta bossa nos discos deles que em algumas noites não conseguiam escolher o que ouvir! Talvez Piazzola? Como na primeira noite em que ela estivera lá e revelara como seus tangos a faziam arrepiar! Arrepiar-se onde não devia! Uma música que faz amor lento, delicado, repleto de harmonia. Ou um bolero? Que tanto dançaram em estados à flor da pele, entre as súplicas lacrimosas de besáme mucho e que embalaram as danças mais imorais já vividas na humanidade. Quem sabe aqueles solos quentes de Steve Vai, cheios de coreografias solenes e insinuantes que sugeriam o despertar de todos os desejos mais lascivos e obcenos? Ou então um pouco da destreza mágica e selvagem do dedilhar flamenco de Paco? Aquela selvageria latejante e voraz que sempre cortava o silêncio de uma noite arrebatadora e calorosa. Música que vinha emaranhada com os sons mais profundos de si e que despertava-lhe os sons mais agudos e espasmos de louca...Havia muito o que viver, o que cantar, o que dançar...Havia muito ainda...
Então quando ele partiu a música perdeu todo o sentido para ela.
Restou-lhe naquela época um silêncio tão ausente de sensações que nem mesmo a solidão doía.
Perdia então algumas noites tentando inutilmente escolher a música para o dia em que ele voltasse. E hoje aprendeu a viver o silêncio.
O amor não deixa sobreviventes.
Monday, March 31, 2008
Saturday, March 29, 2008
lullaby
hoje me olhei no espelho e percebi uma ruga que há muito não via.
não porque ela não mais existia, mas por ela ter se ocultado bem quietinha por lá, entre as minhas francas células epteliais.
as minhas rugas são eternas. infinitas.
senti o canto dos meus olhos se encherem de lágrimas ao percorrer por aquele espelho dedo-duro. lágrimas tão familiares que corri para segurá-las pelo máximo de instante que eu conseguiria.
improvisei um sorriso em seguida pra me convencer que tudo estaria bem, mas também foi uma tentativa inútil de me apoiar em "brilhos eternos".
aquilo [e isso] era um triste monólogo. mas não é mais. nem triste, e nem monólogo.
triste é tudo que tem fim. mas eu calculo o infinito.
triste é quem nunca teve uma ruga. mas eu tenho uma. várias. e cada vez mais.
triste é o que não se viveu. mas eu fiz mais que viver. amei.
triste é a lacuna que fica na memória. e eu tenho infinitas recordações.
triste é quem nunca ergueu um muro de concreto. e eu até pulei um.
triste é ver o varal vazio por não ter lençóis. e no meu tem até fronhas.
triste é a gelidez do monólogo.
triste é a chegada do botox.
não porque ela não mais existia, mas por ela ter se ocultado bem quietinha por lá, entre as minhas francas células epteliais.
as minhas rugas são eternas. infinitas.
senti o canto dos meus olhos se encherem de lágrimas ao percorrer por aquele espelho dedo-duro. lágrimas tão familiares que corri para segurá-las pelo máximo de instante que eu conseguiria.
improvisei um sorriso em seguida pra me convencer que tudo estaria bem, mas também foi uma tentativa inútil de me apoiar em "brilhos eternos".
aquilo [e isso] era um triste monólogo. mas não é mais. nem triste, e nem monólogo.
triste é tudo que tem fim. mas eu calculo o infinito.
triste é quem nunca teve uma ruga. mas eu tenho uma. várias. e cada vez mais.
triste é o que não se viveu. mas eu fiz mais que viver. amei.
triste é a lacuna que fica na memória. e eu tenho infinitas recordações.
triste é quem nunca ergueu um muro de concreto. e eu até pulei um.
triste é ver o varal vazio por não ter lençóis. e no meu tem até fronhas.
triste é a gelidez do monólogo.
triste é a chegada do botox.
Friday, March 28, 2008
pandora's box
todo mundo tem uma gaveta.
já experimentou pintar a essência da sua gaveta?
guardo a minha vida inteira numa delas.
e tenho notado que ela tem ficado cada vez mais inútil ultimamente...
já experimentou pintar a essência da sua gaveta?
guardo a minha vida inteira numa delas.
e tenho notado que ela tem ficado cada vez mais inútil ultimamente...
Monday, March 24, 2008
Domingo
Sunday, March 23, 2008
Rascunhos
Eu teria me sabotado mais um pouco, por mais alguns meses, uns dias, uns minutos...Por um abraço a mais...Teria te levado a elevados e corcovados, te despedaçaria mais um tango e cantarolaria mais uma grosseria...Teria assistido mais um filme, ou até prolongaria uma curta-metragem naquela mesma sala de sempre...Teria te oferecido mais um vinho que alegraria aqueles risos eufóricos nossos...Teceria um último quadro amor-tecedor nosso e derramaria nanquim no último lençol...Te levaria à cidade para ver como em uma multidão de pessoas e muros de concretos só estávamos eu e você...Sempre...Protegidos...Por um olhar a mais, sim eu teria...Tudo, só para não deixar aquele vazio ir embora com todo esse amor-felicidade...
Thursday, March 20, 2008
Alien
Ele cansou de esperar uma atitude. E permanecia ali, sempre quieto e deixando-se levar pela inércia dos fatos, dia após dia. Mas as coisas não caminham só e ele pensava intuitivamente que já estava na hora de mudar. Ele vivia a busca de algo. Uma busca solitária, que acabava afastando-o do mundo, dos amigos e dos amores. O que era ele não sabia. Talvez nunca saberia, talvez não havia o que ser buscado, apenas vivido em estado de não pertencer a lugar nenhum - como quando a gente acredita não em um, mas em todos os deuses. Talvez ele se tornasse um viajante solitário de terras cada vez mais longínquas. Alguém sem laços. Alguém sem lenços e documentos. Um turista acidental, confirmando a sensação de, apesar daquela imensa gratidão por ser humano, ter nascido estrangeiro para a humanidade. Ou, como cantam, um perfeito Englishman in New York...
Thursday, March 13, 2008
Thursday, March 06, 2008
Não são metáforas... ... ...
Eufemismo?
Talvez o meu espírito sofista de hoje tentaria me convencer do contrário...
Porque é no inverso do universo que acontecem os melhores acordes de um Adágio, como o sombrio de Brahms.
Já me convenci que essa patologia crônica que caleja a minha alma de pinturas, vocabulários, artes, e gramáticas, é o que encarde minhas veias torpes psicotrópicas...
Não usar palavras seria perder os sentidos? Ou como diria Lispector na Claridão das águas vivas, seria então "perder-se nas essenciais ervas daninhas?" Ou então se entregar nos infinitos com finais infelizes dos amores conto-de-fadas.
Mas acredito que Iran Necho tem razão... “...a verdade é a maior mentira que já inventaram...”
Talvez o meu espírito sofista de hoje tentaria me convencer do contrário...
Porque é no inverso do universo que acontecem os melhores acordes de um Adágio, como o sombrio de Brahms.
Já me convenci que essa patologia crônica que caleja a minha alma de pinturas, vocabulários, artes, e gramáticas, é o que encarde minhas veias torpes psicotrópicas...
Não usar palavras seria perder os sentidos? Ou como diria Lispector na Claridão das águas vivas, seria então "perder-se nas essenciais ervas daninhas?" Ou então se entregar nos infinitos com finais infelizes dos amores conto-de-fadas.
Mas acredito que Iran Necho tem razão... “...a verdade é a maior mentira que já inventaram...”
Painter Song
Tento vasculhar na minha vasta escuridão alguma metáfora, algum tom de azul-pastel-de-vento pra eu voltar a pintar sobre lençóis...Recomeço buscando um ponto de fuga de onde, outrora fugi desesperadamente...Palavras que me esqueci...Suspiros que se foram...Notas que não me recordo mais...Pintar é algo que se requer prática...E isso, pelo visto eu já perdi também...Em meus esboços trépidos descubro que a verdade é que eu sempre estive só de mim. O primeiro acorde do meu novo adágio é uma ode à redenção. A felicidade tira a cor das pinturas. E o amor-imenso-amor, não vem mais com aroma de música de câmara.
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