Thursday, May 28, 2009

Uma nova canção.

Ainda atordoada, pousei minha retina com a delicadeza de quem marca a vida com suspiros e pontapés. Uma sinestesia dentro de mim esperava a tempestade passar nos últimos tempos... Agora repousando dentro do meu casulo, visualizei aquele semblante com aqueles olhos de primeira vez. No ar a sensação de paz e arrego guardava a memória de uma máscara melancólica e soturna. Quis encarar o espelho pronta para me defender, mas os seus olhos sequer me acusaram : aquilo que foi o meu vício de outrora não necessitava de mais cuidado. Remexendo nas minhas vias interiores, vi o reflexo de toda uma vida abstrata, conceitual. O efeito durou uns sete minutos e algumas epifânias. Talvez a beleza noir dele fosse um mistério indecifrável da alma e do corpo que não dialogavam entre si. Talvez aqueles gritos tormentosos e sinceros fossem versos da poesia inevitável da dor do existir. Talvez... Ele abriu a porta e arrastou consigo tudo o que a leve brisa carrega suavemente pelos ares. E eu não pude dizer nada. Estranho é se descobrir assim e ver que de repente o mundo fica mais singelo e bonito. O fato é que, mais uma vez, não por acaso, vida e arte se confundem e me confundem. E não por acaso deixei parte da dor esquecida num jardim de inverno.

2 comments:

Tom Luz said...

Extremamente melancólico... quando o tirano incontrolável do mundo nos dá o ultimato "ou a arte ou a vida", o único sentimento que temos é a tristeza de vê-las separadas!

Unknown said...

Uma das grandes alegorias da vida, quando retratada naqueles episódios pitorescos, é que ao que os personagens se assemelham, ainda que em sutis nuances, eles também se podem repelir. Às vezes, a imagem espelhada nos escarra. Noutras, ela nos beija... Beijos, San-San Barlavento